A morte de Charlie Kirk, ativista conservador de 31 anos e aliado próximo de Donald Trump, continua a reverberar muito intensamente nos Estados Unidos e já ultrapassou fronteiras, chegando até o Brasil. O suspeito do crime, agora confesso, Tyler Robinson, de 22 anos, foi preso na noite de quinta-feira (11), após uma caçada de 33 horas. Desde então, redes sociais — especialmente o Twitter (X) — se tornaram palco de uma guerra de narrativas sobre as motivações do ataque e o perfil do atirador.
O caso ganhou contornos tão impactantes e polarizadores que até no Brasil o nome Tyler Robinson alcançou o topo dos assuntos mais comentados. De acordo com os dados do Twitter nesta sexta-feira (12), o termo aparece em segundo lugar entre os trending topics, com mais de 560 mil postagens, superando temas de peso da política nacional, como o julgamento e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. O único tópico à frente foi a campanha de marketing global envolvendo o astro sul-coreano Jungkook e a Calvin Klein, com 642 mil menções.
O embate nas redes sociais
Nos Estados Unidos, apoiadores de Kirk tratam o episódio como um “assassinato político” contra um defensor do conservadorismo. Hashtags ligadas ao movimento MAGA (Make America Great Again) se multiplicaram, exigindo pena máxima ao suspeito e denunciando o que chamam de “escalada de violência da esquerda”.
Do outro lado, vozes progressistas questionam se as autoridades e a mídia conservadora não estariam se precipitando ao rotular o crime como atentado político. Usuários argumentam que ainda não há confirmação de vínculos diretos entre Robinson e grupos organizados de esquerda, levantando hipóteses de instabilidade mental, isolamento social ou motivações pessoais. Outros acusam os republicanos de usar a tragédia como instrumento de mobilização eleitoral.
Esse choque de interpretações reforça o clima de desconfiança e divisão: conservadores falam em perseguição, enquanto críticos acusam a direita de transformar Kirk em mártir.
O perfil de Tyler Robinson
Robinson era descrito como um jovem inteligente, com desempenho escolar notável. Em 2021, conquistou uma bolsa presidencial para ingressar na Utah State University, mas abandonou os estudos após apenas um semestre. Sua mãe, assistente social, celebrava o feito em redes sociais, enquanto o pai, policial do condado de Washington, conciliava a profissão com um pequeno negócio próprio. Nas redes sociais há posts mostrando o jovem usando armas e ao lado de militares.

Apesar do bom histórico acadêmico, Robinson dá indicações de que pode ter se radicalizado. Ele não votou nas últimas duas eleições e aparece como eleitor “inativo”, sem filiação partidária. Parentes disseram que nos últimos anos ele havia se tornado “mais político” e manifestava forte antipatia a Charlie Kirk, a quem acusava de “espalhar ódio”.
Nas redes sociais, sua imagem era discreta, voltada a registros familiares. Mas mensagens no Discord e detalhes revelados pela investigação mostram que ele teria planejado a ação, inclusive mencionando pontos de ocultação da arma utilizada.
Os últimos passos antes do crime
Segundo autoridades, Robinson chegou ao campus da Utah Valley University na manhã de terça-feira em um Dodge Challenger cinza. Câmeras registraram sua movimentação por escadas e telhados antes de efetuar o disparo que matou Kirk no pescoço, diante de cerca de 3 mil pessoas.
Após a fuga, ele abandonou o rifle em uma área arborizada. O armamento chamava atenção por conter inscrições gravadas em cartuchos, algumas com teor político, como a frase “Hey, fascist! Catch!”, e outras com referências culturais e memes de internet, incluindo a canção antifascista italiana Bella Ciao.
Poucas horas depois, Robinson teria confessado a um familiar, informação que chegou à polícia por meio de um amigo da família. A prisão ocorreu na noite de quinta-feira, com o suspeito ainda usando as mesmas roupas vistas no dia do crime.
A polarização política
Embora o governador Spencer Cox tenha declarado que o assassinato tem indícios de motivação política, a investigação ainda não apresenta conclusão definitiva. Mesmo assim, o episódio já ganhou contornos simbólicos. Para republicanos, Kirk foi vítima da intolerância ideológica; para setores democratas, o caso é um alerta sobre os riscos da radicalização e da exploração política precoce de tragédias.
A comoção foi imediata. Donald Trump, além de pedir a pena de morte para o suspeito, anunciou que Kirk será condecorado postumamente com a Medalha Presidencial da Liberdade. Enquanto isso, a disputa nas redes transforma o assassinato em mais um capítulo da guerra cultural americana — e, como mostram os trending topics no Brasil, um tema capaz de ofuscar até o noticiário político nacional da semana.